10 de setembro de 2009

Morre aos 67 anos o crítico Saul Galvão


Se as estatísticas servissem para medir a importância de alguém em sua atividade, por este simples parâmetro Saul Galvão já seria grande. Foram milhares de restaurantes e vinhos resenhados durante mais de trinta anos de dedicação à crítica gastronômica, sem contar algumas centenas de receitas sugeridas aos leitores e uma dezena de livros. Mas Saul Galvão, que morreu na quarta-feira, 9, aos 67 anos, não era apenas um jornalista de números expressivos. Seu trabalho como expert no ofício de informar sobre comida e bebida era acima de tudo relevante. Mas descomplicado: ele sabia se comunicar com amadores, especialistas, profissionais.

Saul Galvão de França Júnior nasceu em Jaú - "modéstia à parte", ele dizia - em 3 de abril de 1947. Filho de fazendeiros, aprendeu a formar o gosto em mesas com muitos assados e itens clássicos da culinária do interior paulista. Veio para São Paulo em 1960, para estudar direito no Largo São Francisco, mas não se formou. E, se por um lado as letras jurídicas saíram da sua vida, por outro entrou o jornalismo, um meio mais imediato de ganhar o sustento. O primeiro registro profissional no Grupo Estado é de 1965.

Nos anos seguintes, sempre entre o Jornal da Tarde e o Estado, Saul passou por editorias como a de Política e a Internacional. Em 1978, surgiu então o crítico de restaurantes: o Jornal da Tarde queria um substituto para Paulo Cotrim, um dos precursores da atividade em São Paulo. Saul foi o escolhido para a tarefa. Funcionou tão bem que, em pouco tempo, ele estava só se dedicando à comida. Saul ia muito à França (nos anos 90, comprou inclusive um apartamento em Paris) e, aproveitando as viagens, fez estágios em restaurantes estrelados, como o Troisgros.

Continuou aprimorando os dotes de culinarista e, em 1987, lançou o primeiro livro, Os Prazeres da Mesa, com receitas de cozinhas paulistanas famosas. Paralelamente, ele se aprofundava nos vinhos, outra paixão. E Saul se transformou em um dos maiores experts do Brasil, a ponto de, em 1992, lançar o já clássico Tintos e Brancos.

Nos últimos anos, ele escreveu religiosamente no Paladar (às quintas), sobre vinhos, e no Guia (às sextas), sobre restaurantes. Tornou-se uma grife, no melhor sentido do termo, com seu jeito expansivo e seus bigodes fartos. E cativou os leitores com informações precisas, comentários consistentes e uma devoção sincera aos prazeres da vida. "O negócio é passar bem" virou seu slogan, propagado no jornal, na Rádio Eldorado, em seu blog.

A personalidade forte, as tiradas afiadas, não foram abaladas nem nos últimos dois anos, quando começou a se tratar de um câncer. Saul morreu ontem, de complicações advindas da doença, e foi velado e enterrado na sua querida Jaú. Será sempre lembrado na redação pelo temperamento festivo e pela generosidade em dividir seu imenso conhecimento com os colegas. E por um apetite à toda prova.

Fonte:

ESTADÃO

2 comentários:

Santa Gastronomia disse...

É realmente uma pena, né Romaine..
gostava muito de ler a coluna que ele tinha na revista Gula..
aliás, vc viu a confusão da revista Gula? Achava que era eu que não tinha conseguido o exemplar de agosto..mas depois veio a revista Gosto (muito boa, por sinal!), e comecei a entender que tinha alguma coisa errada...a revista só teve o seu exemplar de agosto em setembro!

Romaine Carelli disse...

Pena mesmo.
Pois é não estava recebendo a minha quando vi a GOSTO nas bancas e percebi que a linha editorial erta parecida saquei que alçgo ia mudar.
Mas ainda estou sem receber nada.

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