25 de fevereiro de 2008

Engarrafamento de Cabernet Sauvignon em Minas Gerais


Dona Maria I governou Portugal entre 1777 e 1792. Entrou para a história como Maria, a louca. Antes de fugir com a Família Real para o Rio de Janeiro e mergulhar profundamente em delírios e devaneios, a monarca jogou pesado contra as Minas Gerais. Aumentou as taxas sobre o comércio do ouro, assinou o decreto de condenação de Tiradentes e proibiu a criação de indústrias na colônia. Este ato foi endereçado, especialmente, às emergentes vinícolas mineiras, nascidas pelas mãos de portugueses, excluídos do processo de exploração aurífera. Com isso, ela conseguiu aniquilar, em sua nascente, uma indústria promissora no estado, que certamente concorreria com a principal atividade agrícola de Portugal. Agora, a história está mudando.“Em Minas, havia fazendeiros com até 170 hectares de videiras”, conta o professor de economia Istvan Karoly Kasznar, ao lembrar que os primeiros vinhedos brasileiros foram introduzidos por padres jesuítas e bandeirantes paulistas quase dois séculos antes do decreto fulminante da rainha. O professor, como é conhecido pelos funcionários da Vinícola Agrocultura Biguá Nandalina (ABN), em Andrelândia, região da Mantiqueira, no Sul de Minas, iniciou o engarrafamento, na quarta-feira, da primeira leva comercial do vinho da marca Doberdo, produzido com a sofisticada cabernet sauvignon, originária de Bordeaux, Sudoeste da França, apontada como a rainha das uvas tintas.Com aromas de amoras maduras e pimenta verde, temperados por ervas finas, a cabernet de Andrelândia, comercializada a R$ 100, a garrafa, ficou quase dois anos armazenada em tonéis de carvalho e garapeira. Nesse primeiro trabalho de envase serão 4 mil unidades de 700ml cada.Em dezembro, quando a vinícola recebeu licença do Ministério da Agricultura, Kasznar já havia engarrafado a bebida produzida a partir de outra uva cobiçada em todo mundo: a syrah, também originária dos campos franceses. A mais nova vinícola brasileira faz experiências ainda com pinot noir, sangiovese e merlot. “Todas as mudas são da França e Itália e aquelas compradas no Brasil têm origem francesa”, ressalta Kasznar.Carioca, filho de húngaros e doutor em gestão de negócios pela Universidade da Califórnia (EUA), ele tem duas paixões. A primeira é lecionar economia. A segunda, a vitivinicultura, que aprendeu a gostar ainda criança, ao descobrir os segredos da atividade com enólogos da Catalunha, Espanha, país onde morou dos sete aos 13 anos. Kasznar, que tem biblioteca com mais de 2,8 mil livros e revistas especializadas sobre o tema, é um dos responsáveis pelo renascimento da produção de vinhos finos em Minas.

Nas terras da vinícola, localizada a sete quilômetros do núcleo urbano de Andrelândia, o professor plantou parreiras em 22 hectares, dos 136 da propriedade. Ao redor das videiras, foram cultivados 5 mil pés de nozes macadâmia. Rica em selênio, indicada para equilibrar o nível de colesterol no organismo humano, são as parreiras, no entanto, as maiores beneficiadas pelo cinturão verde. As nogueiras evitam que ventos fortes danifiquem os pés de uva e proporcionam rendimento a mais para o negócio.Embora a intenção principal do professor seja fabricar “vinhos mineiros de qualidade superior”, a ABN dedicou 10% da produção à linha la brusca, denominação das uvas das quais se extraem os vinhos populares da marca Dei et Populi (Com Deus e O povo). As garrafas de niágara branca e da niágara rosada, que trazem no rótulo anjos barrocos e o recorte de uma rua da histórica Tiradentes, são vendidas a R$ 10. Já a resistente seibel, criada para suportar as doenças que acometeram vinícolas no século 19, custa R$ 15 a garrafa.

Cravada no alto de uma colina, em posição estratégica em relação aos demais setores da vinícola, a casa feita de pedra evoca paisagem tipicamente italiana. O interior é amplo, formado por um grande salão e um pequeno bar, contrastando com barris e tonéis rústicos para a vinificação.As janelas trazem o brasão da família Doberdo, o mesmo impresso no rótulo dos vinhos da ABN. O emblema é homenagem ao marechal do império austro-húngaro, José Breit Doberdo, bisavó de Kasznar. No porão, está instalada a adega totalmente abrigada da luz e protegida pela imagem de Santo Antônio.É nesse cenário cheio de símbolos ligados à produção de vinho que o professor recebe convidados, amigos e futuros distribuidores das marcas Doberto e Dei et Populi. “Estamos buscando parceiros para colocar o vinho mineiro na praça”, explica Kasznar. A casa de pedra e o “autêntico vinho das Minas Gerais” também atrai turistas brasileiros e estrangeiros, que deixam impressões no livro de visitas. “Muito bom. Um produto do Brasil para o mundo”, escreveu Giorgio, italiano de Nápoli.

Fonte:


UAI


1 comentários:

Nádia Lamas disse...

Oi, Romaine! Gostei desse novo visual do seu blog. Eu tb pus um link pro seu lá no meu... a Flávia resolver ir à aula hoje... eta mulher indecisa! bjs

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