“Minha terra tem palmeiras?
Não, minha terra tem engenhocas
de rapaduras e cachaça (...)
Tem cana caiana e cana crioula.
Cana-pitu, cana rajada, cana-do-governo
E muitas outras canas de garapa (...)”
Carlos Drumond de Andrade
A cana-de-açúcar, elemento básico para a obtenção, através da fermentação, de vários tipos de álcool, entre eles o etílico. É uma planta pertencente à família das gramíneas (Saccharum officinarum) originária da Ásia, onde teve registrado seu cultivo desde os tempos mais remotos da História.
Os gregos registram o processo de obtenção da ácqua ardens. A Água que pega fogo - água ardente (Al Kuhu). A água ardente vai para as mãos dos Alquimistas que atribuem a ela propriedades místico-medicinais. Transforma-se em água da vida. A Eau de Vie é receitada como elixir da longevidade.
A aguardente então vai da Europa para o Oriente Médio, pela força da expansão do Império Romano. São os árabes que descobrem os equipamentos para a destilação, semelhantes aos que conhecemos hoje. Eles não usam a palavra Al kuhu e sim Al raga, originando o nome da mais popular aguardente da Península Sul da Ásia: Arak. Uma aguardente misturada com licores de anis e degustada com água. A tecnologia de produção espalha-se pelo velho e novo mundo. Na Itália, o destilado de uva fica conhecido como Grappa.
Os portugueses, motivados pelas conquistas espanholas no Novo Mundo, lançam-se ao mar. Na vontade da exploração e na tentativa de tomar posse das terras descobertas no lado oeste do Tratado de Tordesilhas, Portugal traz ao Brasil a Cana de Açúcar, vindas do sul da Ásia. Assim surgem na nova colônia portuguesa, os primeiros núcleos de povoamento e agricultura.
Os primeiros colonizadores que vieram para o Brasil, apreciavam a Bagaceira Portuguesa e o Vinho d'Oporto. Assim como a alimentação, toda a bebida era trazida da Corte. Num engenho da Capitania de São Vicente, entre 1532 e 1548, descobrem o vinho de cana de açúcar - Garapa Azeda, que fica ao relento em cochos de madeiras para os animais, vinda dos tachos de rapadura. É uma bebida limpa, em comparação com o Cauim - vinho produzido pelos índios, no qual todos cospem num enorme caldeirão de barro para ajudar na fermentação do milho, acredita-se. Os Senhores de Engenho passam a servir o tal caldo, denominado Cagaça, para os escravos. Daí é um pulo para destilar a Cagaça, nascendo aí a Cachaça.
Dos meados do Século XVI até metade do Século XVII as "casas de cozer méis", como está registrado, se multiplicam nos engenhos. A Cachaça torna-se moeda corrente para compra de escravos na África. Alguns engenhos passam a dividir a atenção entre o açúcar e a Cachaça. A descoberta de ouro nas Minas Gerais traz uma grande população, vinda de todos os cantos do país, que constrói cidades sobre as montanhas frias da Serra do Espinhaço. A Cachaça ameniza a temperatura.
Incomodada com a queda do comércio da Bagaceira e do vinho portugueses na colônia e alegando que a bebida brasileira prejudica a retirada do ouro das minas, a Corte proíbe várias vezes a produção, comercialização e até o consumo da cachaça. Sem resultados, a Metrópole portuguesa resolve taxar o destilado. Em
Como símbolo dos Ideais de Liberdade, a cachaça percorre as bocas dos inconfidentes e da população que apóia a Conjuração Mineira. A Aguardente da Terra se transforma no símbolo de resistência à dominação portuguesa. Com o passar dos tempos melhoram-se as técnicas de produção. A cachaça é apreciada por todos. É consumida em banquetes palacianos e misturada ao gengibre e outros ingredientes, nas festas religiosas portuguesas - o famoso Quentão.
No século passado instala-se, com a economia cafeeira, a abolição da escravatura e o início da república, um grande e largo preconceito a tudo que fosse relativo ao Brasil. A moda é européia e a cachaça é deixada um pouco de lado.
Em
Hoje, várias marcas de alta qualidade figuram no comércio nacional e internacional e estão presentes nos melhores restaurantes e adegas residenciais pelo Brasil e pelo mundo.
Linguagem da Cachaça:
Antes do termo cachaça firmar-se, no Brasil, definitivamente como a aguardente derivada da fermentação e destilação do caldo ou do melaço da cana-de-açúcar, convém registrar um nome que prevaleceu pelos séculos XVI e XVII. Era também muito popular jeribita e suas variações: jiribita, jurubita, geribita, giribita, geriba, piripita. Ainda hoje, em alguns locais do Brasil, fala-se uma dessas formas. Os dicionários da época registram todas elas como sinônimo de cachaça e de aguardente.
Porém, Câmara Cascudo (1991) alerta que muitas vezes a fala popular e os documentos literários e estatais (legais e de fisco) indicam que são líquidos diferentes. Ao mesmo tempo, documentos comerciais gravam eufemismos como aguardente da terra, vinho da terra e vinho de mel que, na verdade, são cachaças, para diferenciar de geribita de fora, aguardente (solitariamente para designar bagaceira), aguardente do reino ou ainda bagaceira. A cachaça azeda ou garapa azeda, registrada no final do século XVII, é o caldo fermentado, sem destilação, que também, em excesso, embriaga. É como a garapa doida, que encontramos no início deste século no Acre, onde não havia alambiques, somente engenhocas para moer a cana. O nome pinga só veio depois, no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, segundo Câmara Cascudo (1991), no final do século XIX. Era a destilação, depois da fervura e evaporação do caldo fermentado, que "pingava" na bica do alambique.
Isso é parte de uma monografia que apresentei na UNIRIO.
5 comentários:
Parabéns pela pesquisa! Muito rica!!!
Pra mim só se for dentro de uma receita...não aguento nem um gole, acho que caio dura!rsrsrs
Cai não Lourdes, cachaça boa só levanta a gente.
Essa pesquisa eu conheço! hahhaa
saudades da bagunça da cozinha e fora dela!
Bjus e cachaça!
(ó eu aqui, ói!)
Eu gosto de caipirinha de cachaça - mé, pinga, marvada, a água que passarinho não bebe! ;-)
Bj
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